Ela observava as gotas de chuva caírem sobre o vidro da janela lateral do carro, com a mão repousada no queixo e o cotovelo fletido, enquanto ele dirigia calmamente por ruas desertas. Então ele foi diminuindo a velocidade para estacionar o carro, rodou a chave e puxou o freio de mão. E aí ela já sabia: ele queria conversar. Os dois estavam em silêncio desde saírem do jantar, ambos levemente embriagados. Ele baixou o volume da música e ela não gostou. Se posicionou de forma a parecer confortável e olhou para ela, calmo. Ela retribuiu o olhar, com medo, esperando que ele começasse, estava um tanto cansada de sempre ter que ser aquela que iniciava o assunto. Por hora, ele nada disse, mas continuou fitando-a com rosto inexpressivo. Foi quando ela suspirou, impaciente, deixando claro que as coisas não iam bem. De uma forma sempre neurótica ela buscava explicações de como o relacionamento parecia fluir e hora e meia voltava e parava no mesmo lugar. Aqueles jantares que frequentemente eram prazerosos estavam se tornando tortura. Um jeito forçado de socializar o romance publicamente. 'Talvez é por isso que sempre saímos bêbados dos lugares' ela pensou, porque não havia mais conversa, mais sorrisos, eles comiam e bebiam em silêncio. Ela super produzida, se vestia para quem? O olhar dele distante, nos carros que passavam do lado de fora do restaurante, quem sabe. Seus devaneios já estavam distantes quando ele resolveu perguntar: O que está acontecendo com você? Com a gente? Por alguns minutos ela permaneceu em silêncio, sem conseguir digerir a pergunta. Então, voltou o olhar de encontro ao dele, aquele par de olhos infinitamente verdes, calmo, cansado, meio frustrado até. E só conseguiu dizer: Eu ainda te amo. Com ênfase em ainda. O silêncio retornou e dessa vez ele quem suspirou, profundo. Eles sabiam que volta e meia as coisas desandavam, todo relacionamento tem seus altos e baixos, refletiam. Nem tudo são rosas e vinho tinto, nem sempre na verdade. Mas eles ainda estavam ali, um pro outro. Olhares que confessavam tudo que a boca escondia. Porque ambos sabiam, que a vida, na realidade é isso, altos e baixos, dificuldades e frustrações, neuras e dramas. Mas que aquele chamado de amor, deveria superar, pois só então estaria completo e só assim a chamada felicidade ficaria de vez na vida deles.
A vida é sempre um sobe-e-desce em zigue-zague.
ResponderExcluirGK