(...) Fiz o possível para não ir, eu não queria ir mesmo. Mas o que uma boa filha não faz para agradar um pai carente? Tentei pensar: será apenas uma noite e um domingo qualquer, passa rápido. Coloquei algumas coisas necessárias na bolsa do tipo: fones de ouvido, um livro, escova de dente. Levei também meu travesseiro o qual poderia resolver uma possível péssima noite de sono. As pessoas que foram juntamente comigo e meus pais não são as melhores de se passar um final de semana, nem chegam perto da minha faixa etária mas enfim, tentei ser absurdamente otimista. Chorei um pouco durante a viajem o que fez com que meu pai olhasse rapidamente o retrovisor, eu usava grandes óculos escuros mas pelo que percebi ele fez uma cara de desaprovação e quem sabe ficou com sua consciência pesada. Quando chegamos, a primeira coisa que fiz foi verificar se meu celular estava com linha, sem sucesso. Como pude pensar por uma fração de segundo que tinha área de cobertura naquele fim de mundo? Pronto, eu estava incomunicável. Fui fazer o papel de moça de família e fazer cara de feliz para cumprimentar os donos da casa, um casal da terceira idade. Menti que estava adorando e sorri muito forçadamente. O lugar era bonito, cheirava bem e tudo estava muito organizado. Menos mal, pensei. O casal era hospitaleiro e gentil, lembrava meus avós. Acomodei-me e fiquei monossilábica. E claro, eles foram fazer tudo que se tem direito num rancho (quando se tem também mais idade) pesca, churrasco, roda de viola com fogueira e tudo mais. Minha pequena sorte era que havia uma tevê pra que eu pudesse no mínimo tentar me distrair, uma vez que tevê em fim de semana só não é pior que o lugar que eu estava. Fiquei pensativa e depois fui ler um pouco. Fui amigável com as pessoas que me rodeavam, sentei e alimentei-me mais que devia. Fiquei atônita com a grande variedade de comida. Fui me alojar no quarto de hóspedes que haviam preparado para mim. Era pequeno com duas camas da solteiro, um armário e uma cômoda. Estava limpo e cheiroso. Fiquei satisfeita de pelo menos não ter que dormir no mesmo quarto que meu pai que ronca como um leão. Tomei um banho gostoso e deitei, estava nauseada. Fiquei rolando por uns instantes mas logo caí no sono. Acordei umas duas vezes durante a madrugada, mas logo adormecia novamente. Fui a última a acordar e fiquei novamente estupefata com o banquete de café da manhã. Estava ficando mais tranquila e alegre lembrando que aquilo duraria apenas mais algumas horas. Todos estavam caminhando pelos hectares do local enquanto eu lia mais alguns capítulos do livro. Enfim, fomos almoçar e meus pais vieram me dizer pra arrumar as coisas que estavámos quase saindo. Ufa. Óbvio que arrumei tudo rapidamente e almocei na mesma velocidade. Começaram a guardar as coisas e por fim, nos despedimos do casal que ficaria. Os abracei e ri, agora sem mentir e forçar. Entrei no carro cansada, suada. Olhei os olhos de um pai hiper satisfeito e pensei: não foi um sacrifício tão grande e meu papel está cumprido. Enfim, estou em casa, pensando que valeu a pena o programa de família por ver sorrisos de pais felizes por um fim de semana apaziguável.
Mto bom seu texto. Parabéns.
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